Um filme de Sylvain Chomet

Música de Ben Charest
França - Canadá - Bélgica

 

Este maravilhoso desenho animado conta a história de Champion, um garoto orfão que vive na França com sua avó portuguesa, a simpática Madame Souza.

Obs.: No entanto, o filme — ao invés do título original, As Trigêmeas de Belleville, ou do título brasileiro, As Bicicletas de Belleville — bem que podia ter sido entitulado Bruno, O Basset Hound!

Bruno, na minha opinião, é um dos melhores personagens caninos animados que já vi, simplesmente porque ele é um perfeito... cachorro. Um perfeito Basset Hound. Igualzinho ao meu Hommer! E ele tem um papel muito importante no filme.

Gisele


Os Protagonistas

Madame Souza, seu neto Champion (quando criança e adulto) e Bruno, o cachorro:

Madame SouzaChampionChampionBruno

As Trigêmeas de Belleville:


Madame Souza, vendo a tristeza de seu neto, tenta de tudo para agradá-lo. Assiste a TV junto com o menino, lhe mostra um velho piano ver se lhe interessa e até lhe dá um cãozinho. Nada adianta; Champion, apesar de brincar com o novo amigo (batizado de Bruno) e com seu trenzinho elétrico, continua sendo um menino triste. Até que um dia...

Champion e
                          Bruno
gugu dada...

Arrumando a cama de Champion, Madame Souza encontra um caderno repleto com recortes de jornal e fotos sobre... bicicletas e ciclismo. Finalmente, a vovó descobre o verdadeiro interesse do neto e, quando ele volta da escola naquele dia já encontra um belo triciclo vermelho à sua espera. Desde então, Champion é só alegria!

Não
                          acredito!!!
o que é isso?

O anos passam e o pacato campo florido e cheio de pássaros que abriga a casa de Madame Souza, Champion e Bruno se transforma numa grande cidade. Bem em frente da casa agora existe um viaduto, na altura da torre, por onde passa um trem barulhento e incoveniente — para o qual Bruno faz questão de latir, bravo, em todos os horários em que o monstrengo se atreve a cruzar a propriedade. Tudo porque o trenzinho de Champion um dia passou sobre seu rabinho...

Champion, antes um menino gordinho e rosado, agora é um rapaz magricela, de pernas musculosas — um ciclista profissional. Com sua avó como treinadora (ou melhor, incentivadora), Champion percorre as ruas à noite com sua bicicleta; Madame Souza segue logo atrás (no triciclo vermelho), apitando sem parar para marcar o ritmo. A vovó é tão boa das pernas quanto o neto! Enquanto isto, Bruno, em casa sozinho, espera pacientemente a volta dos donos; sua única atividade é subir para o quarto de Champion, se postar na janela e latir para o trem malvado...

Au au au!
sai monstro malvado!

Quando eles chegam, Champion está exausto; Madame Souza então aplica massagens no neto, usando um material pouco ortodoxo: batedor de ovos, aspirador de pó, cortador de grama... Então, o rapaz senta-se à mesa para jantar, enquanto Madame Souza "afina" a roda da bicicleta e Bruno olha os dois com olhos pedintes, pois está com fome. Champion come sua parte e dá o resto para o cachorro, que, guloso que é, lambe até a última migalha da sua tijela. Então, o rapaz vai escutar música — numa antiga vitrola... movida a pedaladas! Depois Champion vai finalmente para cama dormir; com ele, vai Bruno que, folgadão, deita-se em CIMA do pobre ciclista...

Chega o grande dia: Champion está participando da famosa [Tour de France], a mais famosa prova do ciclismo mundial. Acompanhando-o, seguem Madame Souza e Bruno, aboletados em cima de um caminhão-ambulância. Bruno dorme com o calor e o balanço do automóvel e sonha — com sua tijela de comida e o trem que tanto lhe incomoda.

Sonhando...
dormindo... sonhando

É então que o inesperado acontece: Champion e mais dois ciclistas são retirados da prova por misteriosos homens de preto — que antes tiveram o cuidado de furar o pneu do veículo de Madame Souza e Bruno, para atrasá-los.

Quando Madama Souza junto com o motorista conseguem retornar à corrida — usando o redondo Bruno como "pneu" (!!!), pois o estepe também acabou furando — Champion já está longe. É o faro de Bruno que mostra a vovó que seu neto foi levado para o porto e dali seguiu num navio para além mar. Madame Souza não tem dúvidas: aluga um pedalinho e começa (com Bruno) a jornada para Belleville, atrás da imensa embarcação que leva seu neto prisioneiro. Enquanto isto, o homem que alugou o pedalinho olha no horizonte desolado, esperando que a senhora volte dos passeio que deveria ter durado apenas 20 minutos...

Já é noite quando o navio e o pedalinho (agora puxado pelo coitado do Bruno, que avidamente nada atrás de uma bala amarrado numa vara que Madame Souza segura) chegam à metrópole Belleville (fica implícito que Belleville é Nova Iorque: além de se falar inglês na cidade, há uma "estátua da liberdade" gorda na entrada da cidade).

No porto, Madame Souza e o cachorro vêem um carro sumir com Champion e os outros dois ciclistas e os perdem de vista — o faro de Bruno é atrapalhado pela forte poluição emitida pelos automóveis. Antes de recomeçar a busca, Madame Souza tenta comprar alguma coisa para comer, mas não tem dinheiro suficiente. Então, ela e seu fiel cão vão para baixo da ponte, acendem uma fogueira e ali ficam esperando o dia amanhecer. Para se distrair, Madame Souza pega um aro velho e retorcido de bicicleta e começa a "tocá-lo", uma música conhecida, sucesso nas vozes das Trigêmeas de Belleville muitos anos atrás. Não é que as próprias, passando pelo local, escutam a melodia e se juntam à vovó e a Bruno?

Compadecidas pela situação dos dois, as três velhas senhoras recolhem Madame Souza e Bruno em sua casa, onde os convidados têm que conviver com os estranhos hábitos alimentares das irmãs — sapos que uma delas "pesca" numa lagoa próxima. É sopa de sapo, espetinho de sapo, petiscos de girino... Quando Madame Souza vai guardar o que sobrou da janta na geladeira (que está competamente vazia), leva uma bronca; o que restou deve ir para o lixo!

Para agradar as anfitriãs, Madame Souza senta-se ao piano e canta — ou melhor, berra completamente desafinada e sem ritmo — a conhecida música Casa Portuguesa

Numa casa portuguesa fica beeeeem
Pão e vinho sobre a mesa
Se à porta humildemente bate alguééééém
Senta-se à mesa com a gente
Fica bem esta franqueza, fica beeeeem, que o povo nunca desmente
A alegria da pobreza está nesta grande riqueza de dar e ficar contente
Quatro paredes caiadas
Um cheirinho alecrim
Um cacho de uvas douradas, duas rosas no jardim*


*No CD da trilha sonora de Bicicletas de Belleville esta maravilhosa interpretação de Madame Souza vem de brinde — a canção não está listada, mas se você esperar 1 minuto após a última música, o berreiro da vovó se faz presente...

As irmãs ficam chocadas! No seu afã de continuar agradando, a senhora pega o aspirador de pó e tenta limpar a casa, mas novamente é impedida por uma das trigêmeas, que rapidamente retira o aparelho das mãos da vovó. Enquanto isto, Bruno está na janela, latindo para o trem, que também diante daquela casa insiste em desfilar sua figura insidiosa e barulhenta.

Chega a hora de dormir e à Madame Souza é oferecido o sofá. Bruno está inquieto, há alguma coisa em baixo do móvel. Madame Souza descobre que é um sapo e o põe para fora — que anfíbio de sorte, escapou de ir para a panela! Logo em seguida, o bicho atravessa os trilhos do trem e morre atropelado.

Deixada sozinha na sala, Madame Souza quer ler o jornal que encontra por ali, mas pela terceira vez é impedida de fazer o que quer — umas das trigêmas aparece e se apressa em tirá-lo de suas mãos, o dobra com carinho e o coloca em cima da cômoda. Sem outra alternativa, a vovó de Champion se deita para dormir; Bruno, espaçoso como é, sobe no sofá e se deita em CIMA dela!

No dia seguinte, as trigêmeas de Belleville se apresentam num restaurante local, cantando o antigo sucesso Belleville Rendez-vous

Benoît Charest (música)
Sylvain Chomet (letra)
Intérprete: M


J' veux pas finir mes jours à Tombouctou
(Tombouctou)
La peau tirée par des machines à clous
Moi je veux être frippé, triplement frippé
Frippé comme une triplette de Belleville

J' veux pas finir ma vie à Accapulco
(Accapulco)
Danser tout raide avec des gigolos
Moi je veux être tordu, triplement tordu
Balancé comme une triplette de Belleville

(Allez les filles, allons...)
Swinging Belleville rendez-vous
Marathon dancing doum dilou
Vaudou Cancan, balais tabou
Au Belleville swinging rendez-vous

J' veux pas finir ma vie à Singapour
(Singapour)
Jouer au dico, manger des petits fours
Moi je veux être idiot, triplement z\'idiot
Gondolé comme une triplette de Belleville

J' veux pas finir ma vie à Honolulu
(Honolulu)
Chanter comme un oiseau çà n\'se fait plus
Je veux ma voix brisée, triplement brisée
Swinguer comme une triplette de Belleville

Swinging Belleville rendez-vous
Marathon dancing doum dilou
Vaudou Cancan, balais tabou
Au Belleville swinging rendez-vous

J' voudrai finir ma vie à Katmandou
(Katmandou)
C'est bien plus doux de faire des rimes en 'ou'
Mais je veux être givré, triplement givré
Swinguer comme les triplettes de Belleville

(Allez les filles...)
Swinging Belleville rendez-vous
Marathon dancing doum dilou
Vaudou Cancan, balais tabou
Au Belleville swinging rendez-vous

Swinging Belleville rendez-vous
Marathon dancing doum dilou
Vaudou Cancan, balais tabou
Au Belleville swinging rendez-vous


Então, Madame Souza entende o porque de tanto cuidado com a geladeira, o aspirador de pó e o jornal — eles se transformam em instrumentos nas mãos das irmãs! A vovó também faz parte do show — não cantando ou tocando piano, é claro, mas tirando um som de uma roda de bicicleta, o que ela faz muito bem.

Em uma das mesas do restaurante, a Máfia francesa se reúne; um afetado maitre se dobra, literalmente, para agradar tão ilustres fregueses. Quando ele nota que Bruno os está incomodando, corre para expulsar o cachorro dali. Ainda bem que o animal já havia conseguido o que queria: sentiu o cheiro de seu amado dono Champion na máfia francesa! Ele rouba um lenço do bolso do mafioso e corre "contar" a descoberta para Madame Souza; além disto, a vovó lê no jornal que está nas mãos de uma das trigêmeas sobre o macabro assassinato de um ciclista, crime que teria sido cometido pela Máfia francesa.

Agora tendo uma pista do paradeiro do neto, Madame Souza se finge de velhinha cega e, com seu "cão guia", segue um capanga da máfia, um fulaninho baixo com cara de rato. Num certo momento ele pára numa barbearia, onde recebe atendimento numa cadeira em frente ao estabelecimento. Madame Souza fica do outro lado da rua, de frente para o cara-de-rato, fingindo que está querendo atravessar a rua, só para espioná-lo. No entanto, um escoteiro atencioso faz questão de ajudá-la a atravessar à rua e, toda vez que tenta, acaba levando bengaladas da inocente vovó!

Bruno, o
                            cão-guia

Somente quando uma toalha quente cobre o rosto do cara-de-rato é que Madame Souza decide atravessa a rua — e aí o sinal está fechado para ela, para desespero do pobre escoteiro. Madame Souza segue despreocupada, passa pela frente da barbearia e, discretamente, com a bengala, rouba a jaqueta do mafioso, pendurada em um cabide ao lado dele.

De volta à casa das trigêmeas, Madame Souza vasculha os bolsos e descobre um endereço. Com a ajuda das irmãs, ela vai até o local com Bruno (todos difarçados de "mafioso" — um só mafioso) e lá encontra uma situação bizarra: uma platéia sinistra de jogadores que apostam em três pobres rapazes (incluindo Champion), que devem pedalar três bicicletas montadas em cima de uma estranha enjenhoca sem parar O bandido cara-de-rato está lá; seu trabalho é lubrificar as engrenagens da engenhoca, que ficam em baixo de uma grande plataforma.

Um dos ciclistas, exausto, cai da bicicleta e é imediamente morto com um tiro por um dos mafiosos, enquanto tudo é observado atentamente pelo Chefão.

Rapidamente, com a ajuda das trigêmeas, Madame Souza (que tem o mesmo tamanho) se disfarça como o "cara-de-rato" e toma o lugar dele; ela então desparafusa a engrenagem e, ao invés de ficar estática, a plataforma começa a andar. Os mafiosos, notando o que está acontecendo, começam a atirar, mas não conseguem impedir a fuga de Champion, sua avó e seus amigos — eles arrebentam a parede e seguem pedalando a enjenhoca pelas ruas de Belleville.

A máfia vai atrás, com suas limusines pretas e sinistras, mas uma a uma vão se acidentando pelo caminho, até que chegam a uma ladeira íngrime, que a plataforma ambulante parece não dar conta de subir; as trigêmeas sugerem que o gordo Bruno deve ser "jogado fora" para aliviar o peso, mas Madame Souza não deixa. Ela mesma então desce e começa a empurrar o veículo e as irmãs fazem o mesmo. A última limusine — com o Chefão — acaba se acidentando também, explode, voando pelos ares.

Champion está livre e pode voltar apara casa com a avó e Bruno!


CURIOSIDADES

— Madame Souza tem uma perna mais curta que a outra:

— No quarto de Champion (quando menino) há na parede uma foto de seus pais (bem jovens) junto a uma bicicleta, tirada em 1937. Na mesma parede, anos depois, se juntam uma foto de Champion ainda menino com Bruno na praia (datada de 1969) e de Champion (adolescente) pedindo autógrafo para um ciclista (dá para ver Bruno ao fundo).

— Na sala da casa de Madame Souza e Champion há, em cima de um balcão, diversos troféus, indicando que Champion é um ciclista bem sucedido.

— Na parede da sala das Trigêmeas pode-se ver um poster do ótimo filme As Férias de M. Hulot (Les vacances de monsieur Hulot), de Jacques Tati; elas parecem ser fãs do diretor francês, pois o que assistem na TV é o curta-metragem Escola de Carteiros (L'ecole des facteurs), também de Tati. Os trabalhos do diretor (que costumavam passar na Band, na CNT e na Rede Vida) já chegaram ao Brasil em DVD e podem ser adquiridos, entre outros lugares, nas [Americanas.com]. Ou, importar, pela Amazon: [Shopping Shows].

— A barraca do homem que aluga o pedalinho para Madame Souza é decorada com diversas fotos de homens musculosos e semi-nus...

— Na sala de Madame Souza, há diversas lembranças de Portugal.

— No progama que Madame Souza e Champion assistem na TV, logo no início do filme, aparecem no show (além das trigêmeas de Belleville), [Fred Astaire] e [Josephine Baker]. O violinista que toca com os pés é [Django Reinhardt] — obrigada Tiago Aleixo pela informação!

— As Bicicletas de Belleville  — o filme está na grade de programação do Telecine Cult (NET/Sky) e foi lançado em DVD pela [Casablanca Filmes].


LINKS

[The Triplets of Belleville] — site da Sony, produtora do filme
[-M-] — site oficial do intérprete da música Belleville Redez-vous
[Prêmios & Críticas]


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Página criada em 12 de abril de 2005
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