Madame Souza, vendo a tristeza
de seu neto, tenta de tudo para agradá-lo.
Assiste a TV junto com o menino, lhe mostra um
velho piano ver se lhe interessa e até lhe dá um
cãozinho. Nada adianta; Champion, apesar de
brincar com o novo amigo (batizado de Bruno) e
com seu trenzinho elétrico, continua sendo um
menino triste. Até que um dia...
gugu dada...
Arrumando a cama de Champion,
Madame Souza encontra um caderno repleto com
recortes de jornal e fotos sobre... bicicletas e
ciclismo. Finalmente, a vovó descobre o
verdadeiro interesse do neto e, quando ele volta
da escola naquele dia já encontra um belo
triciclo vermelho à sua espera. Desde então,
Champion é só alegria!
o que é isso?
O anos passam e o pacato campo
florido e cheio de pássaros que abriga a casa
de Madame Souza, Champion e Bruno se
transforma numa grande cidade. Bem em frente
da casa agora existe um viaduto, na altura da
torre, por onde passa um trem barulhento e
incoveniente — para o qual Bruno faz questão
de latir, bravo, em todos os horários em que o
monstrengo se atreve a cruzar a propriedade.
Tudo porque o trenzinho de Champion um dia
passou sobre seu rabinho...
Champion, antes um menino
gordinho e rosado, agora é um rapaz magricela,
de pernas musculosas — um ciclista profissional.
Com sua avó como treinadora (ou melhor,
incentivadora), Champion percorre as ruas à
noite com sua bicicleta; Madame Souza segue logo
atrás (no triciclo vermelho), apitando sem parar
para marcar o ritmo. A vovó é tão boa das pernas
quanto o neto! Enquanto isto, Bruno, em casa
sozinho, espera pacientemente a volta dos donos;
sua única atividade é subir para o quarto de
Champion, se postar na janela e latir para o
trem malvado...
sai monstro malvado!
Quando eles chegam, Champion
está exausto; Madame Souza então aplica
massagens no neto, usando um material pouco
ortodoxo: batedor de ovos, aspirador de pó,
cortador de grama... Então, o rapaz senta-se à
mesa para jantar, enquanto Madame Souza "afina"
a roda da bicicleta e Bruno olha os dois com
olhos pedintes, pois está com fome. Champion
come sua parte e dá o resto para o cachorro,
que, guloso que é, lambe até a última migalha da
sua tijela. Então, o rapaz vai escutar música —
numa antiga vitrola... movida a pedaladas!
Depois Champion vai finalmente para cama dormir;
com ele, vai Bruno que, folgadão, deita-se em
CIMA do pobre ciclista...
Chega o grande dia: Champion
está participando da famosa [Tour de France], a
mais famosa prova do ciclismo mundial.
Acompanhando-o, seguem Madame Souza e Bruno,
aboletados em cima de um caminhão-ambulância.
Bruno dorme com o calor e o balanço do automóvel
e sonha — com sua tijela de comida e o trem que
tanto lhe incomoda.
dormindo... sonhando
É então que o inesperado
acontece: Champion e mais dois ciclistas são
retirados da prova por misteriosos homens de
preto — que antes tiveram o cuidado de furar o
pneu do veículo de Madame Souza e Bruno, para
atrasá-los.
Quando Madama Souza junto com o
motorista conseguem retornar à corrida — usando
o redondo Bruno como "pneu" (!!!), pois o estepe
também acabou furando — Champion já está longe.
É o faro de Bruno que mostra a vovó que seu neto
foi levado para o porto e dali seguiu num navio
para além mar. Madame Souza não tem dúvidas:
aluga um pedalinho e começa (com Bruno) a
jornada para Belleville, atrás da imensa
embarcação que leva seu neto prisioneiro.
Enquanto isto, o homem que alugou o pedalinho
olha no horizonte desolado, esperando que a
senhora volte dos passeio que deveria ter durado
apenas 20 minutos...
Já é noite quando o navio e o
pedalinho (agora puxado pelo coitado do Bruno,
que avidamente nada atrás de uma bala amarrado
numa vara que Madame Souza segura) chegam à
metrópole Belleville (fica implícito que
Belleville é Nova Iorque: além de se falar
inglês na cidade, há uma "estátua da liberdade"
gorda na entrada da cidade).
No porto, Madame Souza e o
cachorro vêem um carro sumir com Champion e os
outros dois ciclistas e os perdem de vista — o
faro de Bruno é atrapalhado pela forte poluição
emitida pelos automóveis. Antes de recomeçar a
busca, Madame Souza tenta comprar alguma coisa
para comer, mas não tem dinheiro suficiente.
Então, ela e seu fiel cão vão para baixo da
ponte, acendem uma fogueira e ali ficam
esperando o dia amanhecer. Para se distrair,
Madame Souza pega um aro velho e retorcido de
bicicleta e começa a "tocá-lo", uma música
conhecida, sucesso nas vozes das Trigêmeas de
Belleville muitos anos atrás. Não é que as
próprias, passando pelo local, escutam a melodia
e se juntam à vovó e a Bruno?
Compadecidas pela situação dos
dois, as três velhas senhoras recolhem Madame
Souza e Bruno em sua casa, onde os convidados
têm que conviver com os estranhos hábitos
alimentares das irmãs — sapos que uma delas
"pesca" numa lagoa próxima. É sopa de sapo,
espetinho de sapo, petiscos de girino... Quando
Madame Souza vai guardar o que sobrou da janta
na geladeira (que está competamente vazia), leva
uma bronca; o que restou deve ir para o lixo!
Para agradar as anfitriãs,
Madame Souza senta-se ao piano e canta — ou
melhor, berra completamente desafinada
e sem ritmo — a conhecida música Casa
Portuguesa
Numa casa portuguesa fica
beeeeem
Pão e vinho sobre a mesa
Se à porta humildemente bate alguééééém
Senta-se à mesa com a gente
Fica bem esta franqueza, fica beeeeem,
que o povo nunca desmente
A alegria da pobreza está nesta grande
riqueza de dar e ficar contente
Quatro paredes caiadas
Um cheirinho alecrim
Um cacho de uvas douradas, duas rosas no
jardim*
*No CD da trilha sonora de Bicicletas
de Belleville esta maravilhosa
interpretação de Madame Souza vem de
brinde — a canção não está listada, mas se
você esperar 1 minuto após a última
música, o berreiro da vovó se faz
presente...
As irmãs ficam chocadas! No seu
afã de continuar agradando, a senhora pega o
aspirador de pó e tenta limpar a casa, mas
novamente é impedida por uma das trigêmeas, que
rapidamente retira o aparelho das mãos da vovó.
Enquanto isto, Bruno está na janela, latindo
para o trem, que também diante daquela casa
insiste em desfilar sua figura insidiosa e
barulhenta.
Chega a hora de dormir e à
Madame Souza é oferecido o sofá. Bruno está
inquieto, há alguma coisa em baixo do móvel.
Madame Souza descobre que é um sapo e o põe para
fora — que anfíbio de sorte, escapou de ir para
a panela! Logo em seguida, o bicho atravessa os
trilhos do trem e morre atropelado.
Deixada sozinha na sala, Madame
Souza quer ler o jornal que encontra por ali,
mas pela terceira vez é impedida de fazer o que
quer — umas das trigêmas aparece e se apressa em
tirá-lo de suas mãos, o dobra com carinho e o
coloca em cima da cômoda. Sem outra alternativa,
a vovó de Champion se deita para dormir; Bruno,
espaçoso como é, sobe no sofá e se deita em CIMA
dela!
No dia seguinte, as trigêmeas de
Belleville se apresentam num restaurante local,
cantando o antigo sucesso Belleville
Rendez-vous
Benoît Charest (música)
Sylvain Chomet (letra)
Intérprete: M
J' veux pas finir mes jours à Tombouctou
(Tombouctou)
La peau tirée par des machines à clous
Moi je veux être frippé, triplement frippé
Frippé comme une triplette de Belleville
J' veux pas finir ma vie à
Accapulco
(Accapulco)
Danser tout raide avec des gigolos
Moi je veux être tordu, triplement tordu
Balancé comme une triplette de Belleville
(Allez les filles, allons...)
Swinging Belleville rendez-vous
Marathon dancing doum dilou
Vaudou Cancan, balais tabou
Au Belleville swinging rendez-vous
J' veux pas finir ma vie à
Singapour
(Singapour)
Jouer au dico, manger des petits fours
Moi je veux être idiot, triplement z\'idiot
Gondolé comme une triplette de Belleville
J' veux pas finir ma vie à
Honolulu
(Honolulu)
Chanter comme un oiseau çà n\'se fait plus
Je veux ma voix brisée, triplement brisée
Swinguer comme une triplette de Belleville
Swinging Belleville
rendez-vous
Marathon dancing doum dilou
Vaudou Cancan, balais tabou
Au Belleville swinging rendez-vous
J' voudrai finir ma vie à
Katmandou
(Katmandou)
C'est bien plus doux de faire des rimes en
'ou'
Mais je veux être givré, triplement givré
Swinguer comme les triplettes de Belleville
(Allez les filles...)
Swinging Belleville rendez-vous
Marathon dancing doum dilou
Vaudou Cancan, balais tabou
Au Belleville swinging rendez-vous
Swinging Belleville
rendez-vous
Marathon dancing doum dilou
Vaudou Cancan, balais tabou
Au Belleville swinging rendez-vous
Então, Madame Souza entende o porque de
tanto cuidado com a geladeira, o aspirador de pó
e o jornal — eles se transformam em instrumentos
nas mãos das irmãs! A vovó também faz parte do
show — não cantando ou tocando piano, é claro,
mas tirando um som de uma roda de bicicleta, o
que ela faz muito bem.
Em uma das mesas do restaurante,
a Máfia francesa se reúne; um afetado maitre se
dobra, literalmente, para agradar tão ilustres
fregueses. Quando ele nota que Bruno os está
incomodando, corre para expulsar o cachorro
dali. Ainda bem que o animal já havia conseguido
o que queria: sentiu o cheiro de seu amado dono
Champion na máfia francesa! Ele rouba um lenço
do bolso do mafioso e corre "contar" a
descoberta para Madame Souza; além disto, a vovó
lê no jornal que está nas mãos de uma das
trigêmeas sobre o macabro assassinato de um
ciclista, crime que teria sido cometido pela
Máfia francesa.
Agora tendo uma pista do
paradeiro do neto, Madame Souza se finge de
velhinha cega e, com seu "cão guia", segue um
capanga da máfia, um fulaninho baixo com cara de
rato. Num certo momento ele pára numa barbearia,
onde recebe atendimento numa cadeira em frente
ao estabelecimento. Madame Souza fica do outro
lado da rua, de frente para o cara-de-rato,
fingindo que está querendo atravessar a rua, só
para espioná-lo. No entanto, um escoteiro
atencioso faz questão de ajudá-la a atravessar à
rua e, toda vez que tenta, acaba levando
bengaladas da inocente vovó!
Somente quando uma toalha quente
cobre o rosto do cara-de-rato é que Madame Souza
decide atravessa a rua — e aí o sinal está
fechado para ela, para desespero do pobre
escoteiro. Madame Souza segue despreocupada,
passa pela frente da barbearia e, discretamente,
com a bengala, rouba a jaqueta do mafioso,
pendurada em um cabide ao lado dele.
De volta à casa das trigêmeas,
Madame Souza vasculha os bolsos e descobre um
endereço. Com a ajuda das irmãs, ela vai até o
local com Bruno (todos difarçados de "mafioso" —
um só mafioso) e lá encontra uma situação
bizarra: uma platéia sinistra de jogadores que
apostam em três pobres rapazes (incluindo
Champion), que devem pedalar três bicicletas
montadas em cima de uma estranha enjenhoca sem
parar O bandido cara-de-rato está lá; seu
trabalho é lubrificar as engrenagens da
engenhoca, que ficam em baixo de uma grande
plataforma.
Um dos ciclistas, exausto, cai
da bicicleta e é imediamente morto com um tiro
por um dos mafiosos, enquanto tudo é observado
atentamente pelo Chefão.
Rapidamente, com a ajuda das
trigêmeas, Madame Souza (que tem o mesmo
tamanho) se disfarça como o "cara-de-rato" e
toma o lugar dele; ela então desparafusa a
engrenagem e, ao invés de ficar estática, a
plataforma começa a andar. Os mafiosos, notando
o que está acontecendo, começam a atirar, mas
não conseguem impedir a fuga de Champion, sua
avó e seus amigos — eles arrebentam a parede e
seguem pedalando a enjenhoca pelas ruas de
Belleville.
A máfia vai atrás, com suas
limusines pretas e sinistras, mas uma a uma vão
se acidentando pelo caminho, até que chegam a
uma ladeira íngrime, que a plataforma ambulante
parece não dar conta de subir; as trigêmeas
sugerem que o gordo Bruno deve ser "jogado fora"
para aliviar o peso, mas Madame Souza não deixa.
Ela mesma então desce e começa a empurrar o
veículo e as irmãs fazem o mesmo. A última
limusine — com o Chefão — acaba se acidentando
também, explode, voando pelos ares.
Champion está livre e pode
voltar apara casa com a avó e Bruno!
CURIOSIDADES
—
Madame Souza tem uma perna mais curta que
a outra:
—
No quarto de Champion (quando menino) há
na parede uma foto de seus pais (bem
jovens) junto a uma bicicleta, tirada em
1937. Na mesma parede, anos depois, se
juntam uma foto de Champion ainda menino
com Bruno na praia (datada de 1969) e de
Champion (adolescente) pedindo autógrafo
para um ciclista (dá para ver Bruno ao
fundo).
—
Na sala da casa de Madame Souza e Champion
há, em cima de um balcão, diversos
troféus, indicando que Champion é um
ciclista bem sucedido.
— Na parede da sala das
Trigêmeas pode-se ver um poster do ótimo
filme As Férias de M. Hulot (Les
vacances de monsieur Hulot), de Jacques Tati; elas
parecem ser fãs do diretor francês, pois
o que assistem na TV é o curta-metragem
Escola de Carteiros (L'ecole des
facteurs), também de
Tati. Os trabalhos do diretor (que
costumavam passar na Band, na CNT e na
Rede Vida) já chegaram ao Brasil em DVD
e podem ser adquiridos, entre outros
lugares, nas [Americanas.com].
Ou, importar, pela Amazon: [Shopping Shows].
— A
barraca do homem que aluga o pedalinho
para Madame Souza é decorada com
diversas fotos de homens musculosos e
semi-nus...
— Na
sala de Madame Souza, há diversas
lembranças de Portugal.
— No
progama que Madame Souza e Champion
assistem na TV, logo no início do filme,
aparecem no show (além das trigêmeas de
Belleville), [Fred Astaire] e [Josephine
Baker]. O violinista que toca com
os pés é [Django
Reinhardt] — obrigada Tiago Aleixo
pela informação!
— As
Bicicletas de Belleville — o filme
está na grade de programação do Telecine
Cult (NET/Sky) e foi lançado em DVD pela
[Casablanca
Filmes].
LINKS
[The Triplets of
Belleville] — site da Sony,
produtora do filme
[-M-] — site oficial do
intérprete da música Belleville
Redez-vous
[Prêmios
&
Críticas]
e-mail
Página criada em 12 de abril de 2005
©Gisele
Disclaimer: no infringement of any
copyrights is intended.
All characters presented on this site are
owned by Sylvain Chomet and Sony Pictures